quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Oro

Representação da lança de Oro
em madeira e fibra vegetal.
(Museu Britânico, séc. XVIII)
Oro era o deus da guerra em várias ilhas do Pacífico (como o Taiti). Filho dos deuses Ta-Aroa e Hina, gostava de lutas sanguinárias e acompanhava os homens nos combates. Só sossegava com sacrifícios humanos. Em períodos de paz, entretanto, tinha aspecto mais calmo e era chamado de Oro-i-Te-Tea-Moe ("Oro da Lança em Repouso").

Quando decidiu se casar, Oro criou um arco-íris entre o céu e a terra e o atravessou até um lugar conhecido como Montanhas Vermelhas. Lá conheceu Vai-Raumati, filha de Ta'ata, o primeiro homem, e a fez sua esposa. Com ela, teve três filhas que adoravam provocá-lo para que ele continuasse irritado: Toi-Mata ("Olho de Machado"), Ai-Tupuai ("Comedora de Cabeças") e Mahu-Fatu-Rau ("Fuga de centenas de pedras"). Seu único filho, Hoa-Tapu ("Amigo Fiel"), tornou-se um grande governante, apesar de não gostar ser contrariado.

Nas Ilhas Cook, dizia-se que Oro era filho de Tangaroa e seu temperamento era um pouco diferente.

Oro também era patrono de um culto taitiano de artistas e animadores chamado Areoi. Os sacerdotes do culto honram o deus com festivais que incluem ofertas públicas de penas vermelhas e do sacrifício de porcos jovens.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia de Reis

Obra de Andrea Mantegna (entre 1495 e 1505)
Segundo a mitologia cristã, hoje (6 de janeiro) teria sido o dia em que um recém-nascido Jesus Cristo recebera a visita de três reis vindos do Oriente com presentes. Seriam eles:
  • MELCHIOR ("meu Rei é luz"), um senhor de aproximadamente setenta anos, calvo com cabelos e barbas brancas, que veio da Mesopotâmia e entregou-Lhe ouro em reconhecimento a Sua realeza;
  • GASPAR ("aquele que vai inspecionar"), um robusto rapaz de uns vinte anos que veio de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio e entregou-Lhe incenso em reconhecimento a divindade e espiritualidade de Jesus como sacerdote; e
  • BALTASAR ("Deus manifesta o Rei"), um mouro, de barba cerrada e uns quarenta anos, que veio da região do Golfo Pérsico e entregou-Lhe mirra em reconhecimento a humanidade, mesmo que fosse um símbolo de imortalidade, já que era usada para embalsamar corpos.

Adoração aos Magos
obra de Murillo (entre 1655 e 1660)
Como se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, precisavam ser das três raças humanas (consideradas existentes na época) e em idades diferentes. Não se tem certeza se eles seriam reis, mas talvez sacerdotes ou conselheiros persas com habilidades em astronomia, pois, segundo consta, viram uma estrela e foram, por essa razão, até a região onde nascera Jesus. Passaram a ser reverenciados como santos a partir do século VIII.

Apenas três presentes foram registrados no Evangelho segundo Mateus, então, diz-se tradicionalmente que tenham sido apenas três, embora haja um número específico. Desses presentes, surgiu a tradição de trocar presentes no Natal para celebrar o nascimento de Jesus. Em alguns países de língua espanhola, os presentes são trocados no dia 6 de janeiro e os pais se fantasiam de reis.

Nesta data, também se encerram os festejos natalícios, sendo o dia em que são desarmados os presépios e as árvores de Natal. A noite do dia anterior (5 de janeiro) e madrugada do dia 6 é conhecida como Noite de Reis.

Bolo de Reis preparado na
Pâtisserie Douce France, em São Paulo
(Fotos: Folha de São Paulo)
Nesta época do ano, discos de massa folhada recheados de frangipane (pasta de manteiga, açúcar, ovos e farinha de amêndoa) ganham as ruas de Paris. Robusto e consistente, esse doce é chamado de galette de rois ou bolo de reis. A tradição diz que uma coroa dourada deve acompanhar o bolo. Ela será entregue a quem encontrar, em sua fatia, o brinde oculto em seu interior (geralmente uma estatueta). Depois de "coroado", o rei/rainha deve continuar o costume e oferecer um novo bolo aos seus companheiros. Em alguns locais, incrementa-se a massa do bolo com vinho do Porto, ou decora-se com laranja, cidra e figo cristalizados. No México católico é servido uma rosca recheada com frutas cristalizadas, acompanhada de uma xícara de chocolate quente.

Em alguns países, é estimulada entre as crianças a tradição de, antes de dormir, se deixar sapatos na janela com capim (ou outras ervas) para que os camelos dos Reis Magos possam se alimentar e retomar viagem. Em troca, eles deixariam doces. Em Portugal, é costume "cantar os reis" de porta em porta para receber guloseimas. Há ainda festivais com Companhias de Reis (grupo de músicos e dançarinos) que cantam músicas referentes ao evento. No Brasil, são conhecidos como Folia de Reis ou Terno de Reis.

A simpatia mais conhecida do dia é a das sementes de romã - que muitas vezes é feita no dia de Natal e/ou na virada dos anos:
  1. Pegue 3 sementes para cada rei (total de nove sementes).
  2. Faça um pedido para cada um dos reis (total de três pedidos).
  3. Jogue três semente pra trás, coma três e guarde outras três na carteira.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

1+1 = Nós!

Na Numerologia, o 2 é um número de colaboração. Prega a harmonia e o equilíbrio. Ao mesmo tempo, é da dualidade, da polaridade e dos conflitos que podem ser construtivos ou destrutivos. É também o número de anos que este humilde blog está no ar! Por essas razões, estou abrindo o e-mail mitographos@gmail.com para que todos possam se comunicar comigo, trocando informações, sugestões, críticas e muito mais sobre as mitologias de todo o mundo.

E assim começa 2012, ano de Xangô, do Dragão de Água e dos deuses da Lua!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O calendário Maia e o fim do mundo

O ano de 2012 é um ano Maia. Afinal... é por causa da civilização maia que só se fala em fim do mundo no dia 21/12/2012.

Os maias não foram os primeiros a usarem um calendário, mas o deles é bem complicado de se entender, até porque, na verdade, são vários calendários que são combinados e utilizados de forma diferente! Mas, graças à exatidão desses calendários - os mais perfeitos entre os povos mesoamericanos -, os maias eram capazes de organizar suas atividades cotidianas e registrar simultaneamente a passagem do tempo, historiando os acontecimentos políticos e religiosos que consideravam cruciais. Eles acreditavam que o deus Itzamna ensinara aos maias primordiais a ciência do calendário.

Estudiosos acreditam que eles estabeleceram um dia zero* em 13 de agosto de 3113 a.C., mas não se sabe o que aconteceu para isso**. A partir deste dia os ciclos - contados de vinte em vinte, ou integrados por cinqüenta e dois anos - se repetiam e dominavam a linearidade do tempo. Podiam acontecer coisas diferentes nas datas de cada ciclo, mas cada seqüência era exatamente igual à outra, passada ou futura. Na perspectiva maia, passado, presente e futuro estão em uma mesma dimensão. Essa concepção circular do tempo, atrapalha os estudiosos. Por exemplo, a invasão tolteca do século X se confunde nas crônicas maias com a invasão espanhola que ocorreu 500 anos depois.

O calendário Tzolkin foi o primeiro a ser utilizado pelos maias. A divisão em trezenas de 20 dias (260 no total) pode ser pelo tempo da gestação humana (pouco mais de 8 meses), pelas Plêiades ou pelo cultivo do milho. Os números 13 e 20 eram importantes na cultura maia: 20 é o número de dedos (possivelmente eles usavam tanto os das mãos quanto os dos pés para contar) e 13 é o número de juntas do corpo (um pescoço, dois ombros, dois cotovelos, dois pulsos, dois quadris, dois joelhos e dois calcanhares) e o número de níveis do Paraíso onde os deuses reinavam. Para entender seu funcionamento, pense em duas engrenagens trabalhando em conjunto: uma possui os hieróglifos correspondentes aos 20 dias e outra os números de 1 a 13. Este calendário era considerado sagrado porque determinava as caracterísitas das datas de nascimento (como um horóscopo), as datas de cultivo, das chuvas e de cerimônias religiosas.

O calendário Haab - equivalente ao dos antigos egípcios e com algumas semelhaças ao gregoriano (o nosso) - se baseia no ano solar, ou seja, o tempo que a Terra leva para dar a volta no Sol. Era o caledário civil, utilizado para a agricultura e para a economia. Também era dividido em 20 dias, mas em 18 períodos, totalizando 360 dias. Ao perceberem que esse total de dias não completava o ano solar, os maias criaram o mês Uayeb, os "cinco dias sem nome" conhecido por ser o período de descanso dos deuses e, portanto, uma época de muitos perigos e mau agouro. Os portais entre o reino mortal e o submundo se dissolviam, e nenhum limite impedia que deidades mal-intencionadas causassem desastres. Os maias realizavam cerimônias durante o Uayeb na esperança de que os deuses retornassem. Por exemplo, as pessoas evitavam sair de casa e não lavavam ou penteavam os cabelos.

Os hieróglifos correspondentes aos 18 períodos (meses) do Haab mais o Uayeb.

Para prevenções e registro histórico, os maias queriam um calendário maior, pois o Tzolkin e o Haab eram menores que um ano. Então, combinados, esses dois calendários ofereciam 18.890 dias únicos, um período de tempo de cerca de 52 anos, que era suficiente para identificar uma data para a satisfação da maior parte das pessoas, já que era muito acima da expectativa de vida geral da época. Esse Ciclo de Calendário foi o mais longo da Mesoamérica. O fim de cada Ciclo de Calendário era um período de tensão e má sorte entre os maias, que faziam rituais para ver se os deuses concederiam outro ciclo de 52 anos.

Os maias queriam registrar a história de sua civilização para as gerações futuras. Para isso, precisavam de um calendário que os levaria através de centenas ou até milhares de anos. Aqui entra o Katun, o Calendário de Longa Contagem, ou o Grande Ciclo, que dura aproximadamente 5125 anos! Sua divisão é diferente, feita da seguinte forma:
  • kin (1 dia)
  • winal (20 dias ou 20 kins)
  • tun (360 dias ou 18 winals)
  • katun (7200 dias ou 20 tuns ou 19,7 anos)
  • baktun (144 mil dias ou 20 katuns ou 394,3 anos)
  • pictun (20 baktuns ou 7885 anos)
  • calabtun (20 pictuns ou 157.704 anos)
  • kinchiltun (20 calabtuns ou 3.154.071 anos)
  • alutun (20 kinchiltun ou 63.081.429 anos, período próximo ao desaparecimento dos dinossauros)

A interpretação incorreta deste calendário forma a base da crença em um cataclismo que determinaria o fim do mundo no dia 21 de dezembro de 2012***. Esta data é apenas o último dia do 13º baktun (data 13.0.0.0.0), ou seja, o fim de um ciclo e não o fim dos tempos. Mas os maias acreditavam que, no final de cada ciclo pictun o universo era destruído e recriado. Portanto, marquem nas agendas: o fim do mundo será em 12 de Outubro de 4772!

Ainda haveria dois outros importantes calendários: do Ciclo Lunar (trezes de 28 dias) e do Ciclo Venusiano (com 584 dias). Muitos eventos nestes ciclos eram vistos como sendo inauspiciosos e perniciosos. Ocasionalmente, as guerras e coroações eram planejadas para coincidir com estágios destes ciclos. Outros ciclos, combinações e progressões de calendários menos prevalentes ou pouco compreendidos, também eram seguidos, como uma contagem de 819 dias que aparece em algumas poucas inscrições e intervalos de 9 e 13 dias associados com diferentes grupos de deidades, animais e outros planetas.

Entenda melhor o funcionamento desses calendários na Wikipedia, no How stuff works e no blog Doismiledoze.

* Acredita-se que o Maias tenham criado o número zero, representado por uma concha!
** Não se tem certeza se foi 11, 12 ou 13 de agosto. Essas informações estão no Código Dresden, um dos quatro documentos mais que sobreviveram à Inquisição.
*** O filme 2012, sobre o fim do mundo, usa a data 23 de dezembro por causa de uma pedra encontrada no México. Mas essa pedra, na verdade, acaba provando que o mundo passa dessas datas apocalípticas.