sexta-feira, 29 de março de 2013

Pêssankas, os ovos da primavera pascoal

Presentear com ovos na Páscoa é um costume bem mais antigo do que se imagina: em escavações arqueológicas, foram encontrados indícios da tradição de pelo menos três mil anos antes de Cristo! Mas não eram ovos de chocolate, como conhecemos hoje, e sim ovos de galinha pintados à mão.

A tradição começou com povos pagãos da Europa central e oriental que, durante o inverno, por causa da neve, permaneciam em casa pintando as cascas de ovos que serviam de amuleto. Quando chegava a primavera, estes ovos eram oferecidos aos deuses, pedindo proteção. Em um ritual para a deusa Ishtar, que ocorria no equinócio da primavera, os participantes pintavam e decoravam ovos e os escondiam.

Até hoje, é costume dar ovos de galinha, de pata, de codorna ou de madeira aos amigos e familiares nos países eslavos (como a Ucrânia, Polônia, Rússia, etc) e no sul do Brasil, que possui um grande número de descendentes de ucranianos. Os poloneses ainda fazem walatka, uma brincadeira em que as pessoas batem um ovo no outro. Se quebrar o ovo do adversário, o vencedor fica com a aposta.

"Na Ucrânia, os ovos se chamam pêssankas (derivado do verbo pysaty, "escrever"), e os desenhos são geométricos (veja aqui alguns). Já na Polônia, recebem o nome de pissankis e as figuras representam a natureza", explica o artista plástico paranaense Eloir Jr., especialista na arte milenar da pêssanka. Cada símbolo pintado tem um significado: triângulos representam religiosidade, linhas retas simbolizam a vida eterna e estrelas significam sucesso.


A forma de decorar os ovos mudou muito. "Antes, a tinta era produzida a partir de legumes e vegetais. Para produzir a cor vermelha, a beterraba era fervida em uma panela com água e deixada de molho por dias e até semanas. Depois, o ovo era mergulhado nesse líquido", conta Eloir. "Para obter tons de verde usava-se a couve, enquanto os tons de marrom eram feitos com casca de cebola. Atualmente, usamos anilina". Mas até hoje, os desenhos na casca do ovo são feitos com cera de abelha derretida na chama de uma vela, de forma bem artesanal.

No Cristianismo, o ovo se tornou um dos símbolos da Páscoa ao representar vida nova e ressurreição de Cristo. Além disso, a data é celebrada justamente no início da primavera no hemisfério norte.

O chocolate entrou na história no século XIX. Primeiro os pâtissiers franceses e alemãos recheavam os ovos de galinha, depois de esvaziados de clara e gema, com chocolate e os pintavam por fora (assim). Depois inventaram os ovos moldados e o resto da história você vê no supermercado.

OBS.: O depoimento do artista plástico e as imagens foram retirados de uma matéria da Folha de São Paulo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

O rumo da História

Terminei de ler O Símbolo Perdido, o quinto livro de Dan Brown, e continuo achando que é um bom momento para ler as três aventuras do simbologista Robert Langdon com tudo que anda se falando sobre igrejas catolicismos, cristianismos e evangelismos. Até atualizei o post recente que falo sobre os livros.

Apesar de toda a polêmica, o autor deixa claro que a forma que nós interpretamos uma símbolo, uma imagem, uma palavra ou uma frase podem alterar o rumo da história... ou o curso da História. Eu garanto: entender isso abre a mente.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Cratos

Na mitologia, Cratos era filho do titã Palas com a ninfa Estige. Irmão de Niké (a Vitória), Bias (a Força) e Zelo (a Grandeza), Cratos era a personificação do Poder. Eles eram a força alada de Zeus. Em sua submissão total ao regente do Olimpo, tomava os pensamentos de Zeus como seus próprios e suas ordens como máximas, não tendo um sistema de valores além daqueles impostos pelo deus. A justiça do soberano, para ele, era a única justiça possível. Teria sido ele o responsável por prender o titã Prometeus.

Como representante do deus supremo, ele demonstra a natureza do comando sem piedade. Acreditava-se que a força de Cratos vinha das almas mortas no mar e que ele só não tomava o Olimpo por obediência a Zeus e por saber que seu amo era o único com poderes para retirar sua imortalidade. Mesmo assim, Zeus o temia.

Não são encontradas representações visuais de Cratos, mas se você quiser conhecer o famoso Kratos, anti-herói dos games God of War (esse da imagem), clique AQUI. A inspiração é bem feita, uma vez que Cratos seria o sucessor de Ares caso algo acontecesse com o deus da guerra.

quarta-feira, 13 de março de 2013

A culpa é dele mesmo...


O que mais causa problemas na Mitologia Grega?
  • Arrogância
  • Destino / Profecia que não pode ser evitada
  • Algum deus que teve um chilique porque um humano era melhor do que eles
  • Zeus não conseguia ficar de calças

É verdade.

sábado, 9 de março de 2013

A elas

Pintura de Jim Warren

Ontem foi o Dia Internacional da Mulher, mas todo mundo sabe que todo dia é dia delas. Então, vamos conferir uma deusa de cada mitologia abordada neste blog?
  • Olokun, a mãe africana dos oceanos
  • Xochiquetzal, a divinização asteca da essência feminina
  • Jaci, a lua para os índios brasileiros
  • Epona, o poder celta da terra
  • Kuan Yin, representante chinesa da misericórdia e da compaixão
  • Tefnut, a deusa egípcia da umidade e das nuvens
  • Mati-Syra-Zemla, a Mãe-Terra eslava
  • Idun, deusa escandinava da primavera
  • Ilmatar, o espírito feminino da natureza finlandesa
  • Higéia, a deusa grega da saúde e da higiene
  • Ushas, a deusa hindu da alvorada
  • Mama Cocha, a deusa inca da água
  • Sedna, a perigosa Mulher do Mar para os inuítes
  • Wakahirume, a tecelã dos deuses japoneses
  • Ixchel, a grande deusa maia
  • Ishtar, a deusa mesopotâmica do amor e da criação
  • Haumea, deusa havaiana da fertilidade
  • Fortuna, a personificação romana para a riqueza e a sorte
  • La Befana, a velhinha italiana que lembra o Papai Noel

Àqueles que sentiram falta de uma mulher nas mitologias australiana e norte-americana: tentarei corrigir essas falhas o mais rápido possível.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Crises religiosas

Temos vivido um período intenso se falarmos de religião. Terreiros de candomblé sendo destruídos, uma intolerância ignorante dos evangélicos, uma disputa por direitos civis que esbarra em fundamentalismos cristãos... E, pra finalizar, tivemos recentemente a estranha renúncia do Papa, o líder católico, revelando a política que controla a fé.

Por essas razões, acabei me lembrando de uma crise recente que a Igreja Católica passou quando Dan Brown lançou, em 2003, O Código Da Vinci (Ed. Sextante, 2004) e o transformou em um sucesso estrondoso.

No best-seller, Dan Brown expõe ao mundo suas teorias sobre a humanidade de Jesus, colocando o simbologista Robert Langdon em busca do Santo Graal. Sua jornada o leva a descoberta que Jesus foi casado com Maria Madalena e teve filhos, ou seja, existiria uma linhagem sanguínea que viria do filho de Deus. Brown ainda culpa a Igreja pela demonização da mulher, que levou a transformação da esposa de Jesus em uma prostituta. Tudo por causa do I Concílio de Nicéa, onde homens do clero decidiram dizer como seriam as coisas dali pra frente, inclusive sumindo com Evangelhos de alguns apóstolos e criando seitas secretas. Ou seja... Brown provava que o homem estava por trás de tudo, e não Deus.

A Igreja tentou impedir o lançamento do livro e, posteriormente, boicotar a estréia do filme estrelado por Tom Hanks. Mas 80 milhões de livros foram vendidos e sei lá quantos outros milhões já assistiram ao filme. Vários documentários e outros livros foram gerados para tentar explicar, entender ou desmistificar as obras de Leonardo Da Vinci. Até o Museu do Louvre chegou fazer um caminho de visitação específico para as obras presentes no livro.

E o pior ainda estava por vir, pois esse livro abriu caminho para a obra anterior de Dan Brown, Anjos e Demônios (Ed. Sextante, 2005), do ano 2000, que criava uma conspiração dentro do Vaticano por conta da partícula divina. OPA! O Papa é assassinado, um conclave é formado e o carmelengo assume? Mais seitas secretas e uma dúvida sobre a divindade do Big Bang? O novo filme? Mais sucesso? A primeira aventura de Robert Langdon era tudo que a Igreja NÃO precisava... Claro que ela tentou embarreirar os dois novamente, mas, como sofreu muito da primeira vez, preferiu fazer um discurso de lamento e força dogmática. Aos interessados na atual renúncia papal, o livro contém descrições do conclave que escolhe o novo líder da instituição.

Talvez pra tentar melhorar um pouco sua relação com a Igreja Católica, Brown resolveu lançar um livro que coloca Deus e a Bíblia como o novo Graal. Mas como ele é polêmico (e muito!), resolveu mostrar todas as ligações possíves da famigerada Francomaçonaria com o Cristianismo! Mesmo que ele passe o tempo inteiro provando que ambos possuem raízes pagãs, a mistura com magia negra e sacrifícios com sangue pioraram a situação do escritor. E como mexe com a cúpula americana também (viu como ele é polêmico?), duvido que ele consiga fazer um filme d'O Símbolo Perdido (Ed. Sextante, 2009). Sorte da Igreja... No entanto, vale destacar que este livro repetidamente enfatiza que a interpretação humana talvez seja o grande mal em torno das religiões.

O discurso deste blog sempre foi exatemente esse: a humanidade da religião a torna passível de erros e interpretações particulares. É isso que Dan Brown faz ao expor a humanidade da Igreja em seus livros. Eu acho que é um bom momento para relê-los ou rever os filmes, seja por diversão, informação, argumentação (contrária ou a favor) ou preparação... porque Dan Brown está preparando a quarta aventura de Langdon onde abordará a Divina Comédia de Dante Alighieri. Esperem intrigas no Inferno, no Purgatório, no Paraíso - e principalmente - na Igreja!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Só amor

Cartão de 1909
Nos EUA, hoje é Dia de São Valentim, ou seja, Dia dos Namorados. Se você não sabe o porquê desta associação, clique AQUI para saber.

Tenho até uma sugestão: já que o Dia dos Namorados no Brasil é comemorado no dia 12 de junho e é um dia mais comercial do que outra coisa, que tal aproveitar a oportunidade de hoje para expressar o amor ao próximo (mesmo que ele ainda não esteja do seu ladinho) sem pensar em presentes, compras e mimos.

Só carinho!

Só amor!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Momo

Na mitologia grega, Momo (Momus) era a personificação do sarcasmo, da reclamação, da culpa e da ironia. Ao contrário do que se pensa, Momo era mulher, patrona de escritores e poetas, representada com uma máscara que levantava para exibir seu rosto, e com um boneco numa das mãos, simbolizando a loucura. Filha de Nix (sem pai), aparecia constantemente no cortejo de Dionísio, ao lado de Comos, deus das farras.

Conta-se que Momo foi convidada para avaliar a criação de três deuses em concurso: Atena, Poseidon e Hefesto. Criticou Atena por ter criado a casa, pois devia ter rodas de ferro em sua base, para que o dono pudesse levá-la assim que viajasse. Zombou do deus do mar por ter criado o touro com os olhos sob os chifres, quando esses deviam estar no meio, para que ele pudesse ver suas vítimas. Por fim, riu do ferreiro dos deuses por ter fabricado Pandora sem uma porta para que se pudesse ver o que ela mantinha oculto em seu coração. Não bastando isso, ironizou Afrodite, dizendo que não passava de uma tagarela e que usava sandálias que rangiam, e teve a audácia de fazer comentários jocososos sobre a infidelidade de Zeus para com Hera. Seus atos a levaram ao exílio do Monte Olimpo.

Poseidon, Pandora, Hefesto, Atena e Momo (Maerten van Heemskerck, 1561)

Mais tarde, estando Zeus preocupado com o fato de que a Terra oscilava com o peso da humanidade, permitiu o retorno de Momo ao convívio do Olimpo desde que ela o ajudasse a descobrir uma solução para o problema. Brincalhona, ela sugeriu que o deus criasse uma mulher belíssima pela qual muitas nações guerrassem e assim se destruíssem. Zeus levou-a a sério e assim nasceu Helena, que levou os gregos à Guerra de Tróia.

Na Roma antiga, Momo e Comos foram unificados em uma divindade masculina que se tornou símbolo de festas e a imagem icônica em manifestações artísticas. Durante os três dias de festividades ao deus Saturno (o nosso Carnaval), o mais belo soldado era designado para representar o deus Momo, ocasião em que era coroado rei e tratado como a mais alta autoridade local, sendo o anfitrião de toda a orgia. Encerrada as comemorações, o “Rei Momo” era sacrificado. Posteriormente, passou-se a escolher o homem mais obeso da cidade, para servir de símbolo da fartura, do excesso e da extravagância.

Momo em detalhe da pintura de Hippolyte Berteaux no teto do Teatro Graslin, em Nantes (França)

Na Espanha, um boneco de Momo era queimado durante as festas pascoais para lembrar a morte de Jesus. No século XV, escritos espanhóis o chamam de Rei Macaco. No século XIX, em Barraquilla (Colômbia), um alegre folião era coroado Rei Burlesco nos salões de baile, e autorizava a desordem carnavalesca com bumbos, pratos e maracas, em paródia ao cerimonial solene dos ministreis que, nos tempos coloniais, saíam à praça pública para ler as ordens dos vice-reis.