sábado, 19 de abril de 2014

Dia do Índio

Índia Kayapó
Não podemos esquecer desse dia que comemora àqueles que são a essência do nosso país: os Índios Brasileiros.
Mas primeiro... vamos entender uma coisa: ÍNDIO É UMA PALAVRA ERRADA! Explicando: quando Cristóvão Colombo chegou ao continente americano, achou que tinha chegado às Índias e, assim, denominou todos os povos nativos como "índios". Entenda: os nativos do Brasil não se chamavam de "índios", muito menos os nativos das planícies norte-americanas. Esse termo eurocêntrico está caindo em desuso nas últimas décadas. O correto seria chamar de povos autóctones ou povos nativos, porém, os termos "índio" e "indígenas" já estão enraizados em todos os idiomas.

Em abril de 1940, os principais líderes autóctones do continente americano se reuniram para o 1º Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. O objetivo era discutir ações que zelassem pelos direitos dos povos nativos. Porém, muitos líderes boicotaram os primeiros dias do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos". Depois de algumas reuniões, eles decidiram que o Congresso representava um importante momento histórico, e resolveram participar, criando assim o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem como função zelar pelos direitos dos povos nativos em toda a América.

O Congresso também aprovou uma recomendação de delegados "indígenas" do Panamá, Chile, Estados Unidos e México, que pedia a adoção do Dia do Índio pelos governos de todos os países americanos. O dia proposto foi 19 de abril, data em que acabou sendo realizada a reunião. O Brasil não adotou a data comemorativa imediatamente: somente em 2 de junho de 1943, após intervenção do Marechal Rondon, o então presidente Getúlio Vargas, por meio do decreto-lei 5.540, instituiu a data, cumprindo a proposta do Congresso. Desde então, nosso país celebra a data com atividades educacionais e divulgação sobre o povo nativo brasileiro. Escolas e instituições culturais promovem ações e palestras para lembrar a importância desses povos para a formação da cultura brasileira e preservar as tradições e a identidade dos "índios".

No entanto, a data não colou pelo mundo. Somente Argentina e Costa Rica adotaram. Em 1994, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) instituiu o Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado todo 9 de agosto. Em 2019, a organização comemora o Ano Internacional das Línguas Indígenas.

Aproveitem para conhecer o Museu do Índio no Rio de Janeiro e para dar uma passeada aqui no blog para saber mais sobre nossa cultura na lupa de Mitologia Brasileira (aí do lado) ou vá direto em alguns verbetes dedicados à mitologia "indígena" brasileira, como o protetor Anhangá, as lendas do Guaraná, nossa sereia Iara e a lua Jaci. Você também pode conhecer mais sobre o famoso ritual Quarup, entre outros.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Já que estamos na Páscoa...

Vamos relembrar o que já falei por aqui sobre o assunto:
  • Você sabe da onde veio essa história de Ovo de Páscoa? DAQUI!
  • E você sabia que isso tem a ver com uma deusa babilônica? Não? VEJA SÓ!
  • Até mesmo nossos índios brasileiros fazem um ritual famoso com algumas semelhanças, sabia?
  • Sem contar o Carnaval, que tem tudo a ver com a Páscoa... certo?
  • E o que um Coelho tem a ver com isso tudo afinal??? Leia AQUI.
  • O Coelhinho da Páscoa já virou guerreiro protetor das crianças em uma animação. Se não sabia, clique AQUI.
  • Mas você sabe o que é mais importante na Páscoa, né? CHOCOLATE!!!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Lua de Sangue

Lua Azul... Super Lua... e agora Lua Vermelha? Isso mesmo! O fenômeno conhecido como Lua de Sangue é originário de um eclipse total da Lua com coloração avermelhada. Ele é o primeiro de quatro eclipses totais que vão acontecer em sequência – conhecido como Tétrade – e que terão seu ciclo encerrado em 28 de setembro de 2015 (ou outros eclipses serão em 8 de outubro de 2014 e 4 de abril de 2015).

Esse fenômeno esteve ligado a diversos tipos de crenças ao longo da história. Na Bolívia, por exemplo, acreditava-se que cachorros corriam atrás do Sol e da Lua e mordiam-nos: era o sangue da Lua que a deixava avermelhada. A população gritava e gemia para espantar os cães.

Em um versículo bíblico do profeta Joel do Antigo Testamento diz que “o Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e temível dia do Senhor”. Em Apocalipse (6:12-14) temos o seguinte:
Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo e sobreveio um grande terremoto. O Sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra como a figueira quando abalada pelo vento forte, deixa cair seus figos verdes. O céu recolheu-se como um pergaminho, quando se enrola. Então todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar.
Só neste século serão oito tétrades! Dia 14 de abril de 2014 foi apenas o início da segunda tétrade do século! A primeira foi no biênio 2003-2004 e a próxima será em 2032-2033. Porém, para os judeus, essa tétrade é a mais importante pois os eclipses – tanto em 2014 quanto em 2015 – se alinham perfeitamente com o Pessach (Páscoa) e o Sucot (Festa dos Tabernáculos).

Do ponto de vista científico, a Lua de Sangue é um fenômeno perfeitamente explicado e previsível: a cor avermelhada ocorre porque os raios de Sol que iluminam a Lua nesta ocasião são filtrados pela atmosfera da Terra e chegam a ele com menos luz azul e com tons mais vermelhos.


Para completar, acima e ao lado direito, foi possível ver Marte (o planeta vermelho) e a brilhante estrela Espiga (a estrela mais brilhante da Constelação de Virgem).

domingo, 30 de março de 2014

Samba do grego doido 2 - A missão

O 2 do título dessa postagem vem daqui por causa desse meu último comentário:
É uma liberdade poética tão grande que fiquei me perguntando: por que não usar os mitos corretamente - que já são deveras interessantes e cheios de reviravoltas - ao invés dessas adaptações livres e sem sentido?
Pois é... nem tenho muito o que dizer de Hércules (The legend of Hercules, 2014), uma mistura de Sansão (10%), o próprio herói grego (20%) e Maximus, o Gladiador de Russell Crowe (Gladiator, 2000). Aliás... depois dos discursos motivadores pré-combates de Coração Valente (Braveheart, 1995), TODO FILME TEM QUE TER? Muitas vezes são desnecessários, maçantes e previsíveis!


Bom... o filme coloca Hércules contra seu pai Anfitrião, um déspota violento (veja a incoerência do nome do vilão com o significado do nome!). O semideus se apaixona pela jovem Hebe de outra cidade (e não a deusa) que Anfitrião quer conquistar. Para evitar mais guerra, a jovem é dada em casamento para o irmão de Hércules, o jovem inseguro e mau caráter chamado Íficles. Só que é preciso tirar o herói de cena: em uma emboscada, ele acaba vendido como escravo de lutas em arenas! Oi?

Já falei até demais do filme. Mitologicamente é péssimo! Como filme é péssimo! Perde momentos e insere boçalidades, como, por exemplo, guerreiros egípcios com armaduras de Anúbis ou um chicote de relâmpagos abençoado por Zeus! Tive vergonha do Leão da Neméia que apareceu e da falta de uso de sua pele. Vem um novo filme sobre o herói que tem alguns dos trabalhos no trailer. Espero realmente que seja melhor e que acabe abrindo os olhos de Hollywood para a beleza e a força da mitologia em si.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Centauro

Na mitologia grega, o centauro é uma criatura com cabeça, braços e dorso de um ser humano e com corpo e pernas de cavalo. Às vezes, têm também as orelhas compridas e pontudas e os narizes chatos característicos dos sátiros.


De acordo com o imaginário mítico dos gregos antigos, a parte inferior dos centauros (cavalo) era a responsável pela força física, brutalidade e impulsos sexuais. Já a parte humana era mais racional, com capacidade de analisar e refletir. Portanto, eram seres que representavam conflitos típicos dos seres humanos: razão, emoção e violência. Frequentemente eram descritos como bebedores contumazes e indisciplinados, delinqüentes sem cultura e propensos à violência quando bêbados. Alguns eram vistos em companhia de Dioniso.

A origem dessa criatura mítica é cercada de ramificações, porém a maioria coloca o criminoso Íxion como ancestral. Pode se fazer referência a eles poeticamente como Ixiônidas. Conta-se que Íxion tentou cortejar a deusa Hera. Zeus criou uma nuvem (Nefele, em grego) com o formato da deusa, conferiu-lhe a existência e se distraiu vendo seu rival desonrar a falsa Hera. Dessa relação foi concebido Kentauros, que depois daria origem a uma descendência a partir do cruzamentos com éguas.

Destes seres, apenas os centauros Quíron e Folo fogem ao estereótipo colérico de seus semelhantes. O primeiro foi fruto da união entre o titã Cronos e a náiade Filira; e o segundo provinha do relacionamento entre Sileno e a ninfa Melos. Portanto, nenhum dos dois era descendente de Íxion, resguardando-se assim de sua truculência.

Cena da batalha entre os Lápitas e os centauros
esculpida no friso do Parthenon, Atenas (Grécia).
Os centauros são muito conhecidos pela luta que tiveram com os Lápitas, provocada pelo intento ébrio do centauro Euration de raptar e violentar a princesa Hipodâmia no dia da sua boda com o Rei Pirítoo. O herói Teseu, que estava presente, ajudou o rei a equilibrar o combate. Os centauros foram expulsos, então, das florestas da Tessália onde moravam e foram habitar o Épiro. Essa história - conhecida por centauromaquia - é uma metáfora do conflito entre os baixos instintos e o comportamento civilizado na humanidade.

Diz-se que o herói Hércules é o responsável pelo extermínio de toda a raça, até mesmo seu mestre Quíron e seu grande amigo Folo. Foi numa visita a Folo que tudo aconteceu. Ao receber a visita do herói, o centauro decidiu abrir uma garrafa de vinho para comemorar. Outros centauros, atraídos pelo aroma da bebida, invadiram a casa onde eles se encontravam e foram alvejados pelo guerreiro que, em sua ânsia de vencê-los, acertou acidentalmente Folo. Quíron também sofreu um ferimento incurável e sacrificou sua imortalidade pela humanidade.

Por ironia do destino (ou divina), Hércules foi morto por uma armadilha de Nesso, o último centauro. Algumas tradições culturais que contam a ascensão do herói ao Olimpo e de seu casamento com a deusa Hebe, dizem que essa união foi uma tentativa de Hera fazer as pazes com o herói e sua filha, que também é dita como mãe dos centauros com Apolo.

Hércules e Nesso, estátua em mármore de Giambologna (1599), Florença

A mitologia também menciona uma tribo de centauros com chifres de touro, nativa da ilha de Chipre. Haviam nascido de Gaia, quando ela foi acidentalmente engravidada por Zeus em sua tentativa fracassada de seduzir Afrodite quando ela acabava de emergir do mar. Os centauros cipriotas eram, provavelmente, espíritos da fertilidade locais, do cortejo de Afrodite, ou sacerdotes da deusa que usavam chifres de boi (cerastas).

Em grego, a palavra centauro significa "picador de touros" e pode ter sua origem nos vaqueiros da Tessália que andavam sempre a cavalo organizando as boiadas. Isto teria intrigado os viajantes que passavam pela região e acreditavam que os homens montados em seus cavalos e pareciam ser um só ser. Em tempos recentes, os centauros propriamente ditos, com corpo de cavalo, são chamados de hipocentauros para distingui-los de seres com corpo de asno (onocentauros), de pégaso (pterocentauros), de boi (bucentauros), de leão (leontocentauros) ou de cavalo marinho (ictiocentauros) citados por bestiários medievais e outros seres centauróides inventados pela literatura de fantasia.

Centáurides coroam Afrodite, mosaico romano.
Ainda que não apareçam nos mitos mais antigos, as centáurides (centauros fêmeas) são também mencionadas na arte e literatura da Antiguidade. Ovídio conta a história de uma centáuride chamada Hilônome que se suicida quando seu amante Cilaro é morto na guerra contra os lápitas.

O décimo signo do zodíaco é Sagitário, representado por um centauro arqueiro. São duas as possibilidades de lenda:

  • Por seus serviços e sacrifício, Quíron teria sido alçado às estrelas como a constelação de Sagitário.
  • Crotos era filho de Eufeme, a babá das musas no Monte Hélicon. Diz-se que inventou o arco e foi o primeiro a usar flechas para a caça. Sempre impressionado com o talento das musas, Crotos não sabia expressar seu contentamento com palavras após as apresentações das deusas e batia uma palma da mão na outra. Por essa razão, é chamado de inventor do aplauso. Após sua morte, as musas pediram que Zeus o colocasse entre as estrelas e ele se tornou Sagitário (corpo de cavalo e arco por ser um exímio caçador e cavaleiro). Alguns representam Sagitário com um rabo curto de bode, porque algumas genealogias colocam Crotos como filho da musa Euterpe com o deus .