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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Hipnos e a corte dos sonhos

Hipnos é a personificação do sono e da sonolência na mitologia grega. Segundo a Teogonia de Hesíodo, era filho de Nyx, sem pai; segundo o pseudo-Higino, era filho de Nyx com Érebo.

Noite e Sono, tela de Evelyn de Morgan (1878)

Nos poemas homéricos, Hipnos habita a ilha de Lemnos, mas Virgílio o deslocou para os Infernos e Ovídio para o país dos Cimérios, às bordas do reino dos mortos. Nesta concepção, residia em um palácio construído em uma remota caverna próxima ao Rio Lete (esquecimento) no Érebo, a terra da escuridão eterna, além dos portões do sol nascente. Lá vivia com seu irmão gêmeo Thanatos (a morte). Por ser irmão da morte e viver no reino de Hades, Hipnos estava também ligado ao coma (kõma é "sono profundo" em grego) e vícios profundos.

Sono e Morte, tela de John William Waterhouse (1874)

Às vezes mostrado adormecido em um leito de penas com cortinas negras à volta, seus atributos incluíam um chifre contendo ópio, um talo de papoula e outras plantas hipnóticas, um ramo gotejando água do rio Lete e uma tocha invertida. Costumava ser visto trajando peças douradas enquanto seu irmão gêmeo normalmente usava tons prateados. Também foi retratado como um jovem nu dotado de asas nas têmporas, tocando flauta com a qual adormecia os homens, com um rastro de névoa por onde passava. Em alguns casos, era um senhor com asas nas costas e se vestia como sua mãe, com um robe negro incrustado de estrelas e uma coroa de papoulas. Somnus (ou Sopor) é sua contraparte romana.

Hipnos está envolvido em alguns mitos gregos:
  • Endimião, sentenciado por Zeus ao sono eterno, recebeu de Hipnos o dom de dormir com os olhos abertos para poder ver constantemente sua amada Selene, deusa da lua. Em outra versão dessa história, assombrado pela beleza de Endimião, Hipnos o fez dormir de olhos abertos para poder admirar constantemente seu rosto.
  • Já precisou adormecer Zeus em duas ocasiões a pedido de Hera: certa vez para causar problemas a Hércules e, em outra, para ajudar os aqueus na Guerra de Troia. O grande deus ficou furioso e ameaçou jogá-lo ao mar. Hipnos se transformou em um besouro (ou num marimbondo) para fugir, mas, com receio de enfurecer Nyx, Zeus conteve sua fúria.

De Hipnos provem a hipnose, um estado alterado e temporário de atenção, que pode ser induzido, possibilitando fenômenos espontâneos como em resposta a estímulos verbais ou de outra natureza, como toques ou sons. Durante muito tempo se confundia a hipnose com o sono, devido ao relaxamento físico enquanto a pessoa está em transe.

Para Hesíodo e o pseudo-Higino, Hipnos também é irmão dos Oniros (ou Oneiroi), os Mil Sonhos, enquanto para Ovídio, ele é o seu pai com a graça bastarda Pasítea (deusa da alucinação, da meditação e do relaxamento, prometida a ele por Hera, mãe da graça com Dioniso). Toda noite Hipnos se erguia no cortejo de sua mãe Nyx, tendo Aergia (deusa da indolência e da preguiça) na sua frente e os oniros voando como morcegos através de dois portais: do feito de chifre, saíam os sonhos proféticos enviados pelos deuses; do feito de marfim, saíam os sonhos falsos e sem sentido, além dos pesadelos (melas oneiros, "sonho negro").

Morfeu, Fântaso e Íris,
tela de Pierre-Narcisse Guérin (1810)
Morfeu era o líder dos Oniros, também chamado de deus dos sonhos, porque dava forma a eles e os indicava o caminho. Às vezes, adotava uma aparência humana especialmente igual aos entes queridos, permitindo aos mortais fugir por um momento do olhar dos deuses. Era o principal serviçal de Hipnos, impedindo que ruídos o acordassem. Dormia em uma cama de ébano, rodeado de flores de dormideira, que continha alcaloides de efeitos sedantes e narcóticos. Era representado com asas, voava rápido e silenciosamente, lhe permitindo chegar em qualquer lugar e a qualquer momento. Inadvertidamente, Morfeu revelou segredos aos mortais através de seus sonhos, e por isso foi fulminado por Zeus. Do seu nome procede o nome da droga morfina, por suas propriedades que induz à sonolência e tem efeitos análogos ao sonho.

De todos os oniros, três eram responsáveis por distribuir os sonhos a quem dormia: Icelos (sonhos humanos e plausíveis), Fântaso (sonhos simbólicos e objetos inanimados) e Fobetor ("O Temível", responsável por medos noturnos, pesadelos e animais). A única mulher, Fantasia, distribuía os sonhos e devaneios aos acordados ou à beira da morte.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Unicórnio


O unicórnio ("um chifre" em latim) é um cavalo forte, veloz e pode apresentar um temperamento hostil. Sua característica particular é um único chifre espiralado no meio da testa de aproximadamente 45 cm. Em algumas espécies esse chifre é branco na base, preto no meio e vermelho-vivo na ponta. Alguns unicórnios podiam emitir ruídos graves. Algumas lendas ainda descrevem o animal com cavanhaque de bode, pernas de corça e rabo de leão.

Gravura do século XVII.
No chifre reside toda história e pensamentos do unicórnio. Várias lendas dizem que seu chifre possui incríveis poderes mágicos. Um cálice feito a partir dele propiciaria proteção para qualquer um que bebesse nele, além de prevenir contra convulsões, epilepsias e agir contra venenos. Em horas de perigo ou de concentração prolongada o chifre pode apresentar brilho ou esplendor suave. Para a proteção do unicórnio, não podemos ver seu chifre e, por isso, é confundido com um simples cavalo.

Quando adulto, o unicórnio apresentava pelagem branca, mas dourado em sua fase de potro, e prateado durante a adolescência. Alguns podiam apresentar a pelagem da cabeça ou só a crina com coloração vermelha escura. Seus alimentos favoritos eram frutas, grãos maduros, água corrente e folhas tenras de árvores.

O unicórnio representa a força, o poder e a pureza. Ama tudo o que é puro e por esse motivo se conta que quando um unicórnio encontra uma donzela, ele deita-se sobre o colo dela e adormece. Tornou-se símbolo recorrente da virgindade, principalmente, nas artes medievais e cristãs.

A virgem e o unicórnio, afresco de Domenico (1605)

O unicórnio capturado, tapeçaria do séc. XV.
A origem do tema do unicórnio (ou licórnio) é incerta e se perde nos tempos: está presente nos pavilhões de imperadores chineses e na narrativa da vida de Confúcio; faz parte do grande número animais fantásticos conhecidos e compilados na era de Alexandre e nas bibliotecas e obras helenísticas; e foi descrito pelo médico grego Ctésias, em 400 a.C., como sendo um animal nativo de terras indianas.

É bem possível que o mamífero pré-histórico chamada Elasmotério (ancestral do rinoceronte) seja a inspiração. Um ancestral asiático do antílope (oryx) também pode ser a referência. Estudiosos creem que o dente do narval era vendido por antigos mercadores nórdicos como chifre de um animal fantástico como o unicórnio.

Elasmotério em pintura de Heinrich Harder
É frequentemente utilizado em livros e filmes de fantasia (Harry Potter, por exemplo) e acaba ganhando diversos atributos que diferem dos relatos originais. A Constelação de Monoceros é atribuída ao unicórnio.